ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL


UM NOVO ALIMENTADOR PARA COLMEIAS DE ABELHAS INDÍGENAS SEM FERRÃO
Luiz Augusto Bonacossa Caldas (lcaldas@ig.com.br)
Médico e criador de Jataís na cidade do Rio de Janeiro.

A alimentação artificial é muitas vezes indispensável para a manutenção de colônias de abelhas criadas pelo Homem; isto já é conhecido desde a antigüidade. Com referência aos meliponíneos não poderia ser diferente e a prática o confirma, especialmente nas épocas mais frias do ano e quando há escassez de néctar. Para este fim são usados xaropes de diversas composições mas que, basicamente, consistem de uma solução de açúcar em água.
Existem duas maneiras de oferecer este xarope às abelhas:
1 – Colocando-o fora da colmeia
2 – Mantendo-o dentro da colmeia
Ambos os métodos apresentam vantagens e desvantagens. A alimentação externa, fora da colmeia, tem a vantagem de ser administrada a qualquer momento, sem necessidade de abrir a caixa de criação e expor, assim, a colônia ao esfriamento, ao estresse e aos inimigos naturais. Todavia, quando se deixa uma solução açucarada ao ar livre atrai-se não apenas as abelhas de nossas colmeias mas, também, as Apis mellifera e outros insetos que vivam por perto, possibilitando ferroadas e saques. Por estes motivos, um alimentador artificial que unisse a capacidade de ser oferecido às nossas colônias sem obrigatoriedade de abrir suas caixas e, ao mesmo tempo, permanecesse exposto apenas no interior das colmeias seria, acredito, interessante à meliponicultura e este é o assunto do presente trabalho.
A idéia deste alimentador baseia-se na colocação de um tubo de PVC rígido, desses habitualmente usados em construção civil para distribuição de água potável, atravessado entre duas paredes de uma colmeia racional e aí fixado com adesivo à base de silicone. Neste cano (tubo fixo) é cortada uma “janela” retangular para que as abelhas tenham acesso a um outro tubo (tubo móvel) cujo diâmetro permita embuti-lo no primeiro mas sem folgas. No cano interno faz-se, ao centro, uma concavidade que quase alcance o lado oposto, e perfura-se o seu fundo, tornando-a uma espécie de funil. Quando abastecemos o tubo móvel com xarope a concavidade também se encherá com a solução açucarada, permitindo a alimentação das abelhas. Nas extremidades do cano móvel são escavadas roscas para que possam ser vedadas por dois tampões também em PVC.
A seguir será orientada, passo a passo, a construção do alimentador, cujas medidas estão ajustadas às colmeias tamanho médio, modelo Paulo Nogueira-Neto, descritas na edição 1997 do seu livro “Vida e Criação de Abelhas Indígenas Sem Ferrão” (Editora Nogueirapis). É possível modificar tais medidas, adaptando-as a diferentes modelos de colmeias.
TUBO FIXO
Corta-se um pedaço de 200 mm de cano de PVC rígido com 21 mm de diâmetro interno. Marca-se o centro do tubo e corta-se uma “janela” de 40 mm de extensão, passando por este centro, aprofundando-a até o meio do tubo (figura 1). O uso de uma serra de corte cilíndrica (serra cilíndrica de tungstênio) montada no arco facilita bastante este trabalho pois, com ela, pode-se cortar o plástico em qualquer sentido. Depois, por meio de uma lixa grossa, retira-se o polimento deste pedaço de cano, deixando-o bem áspero para melhor aderência da cola às suas extremidades, ao embuti-lo nas paredes da
colmeia, e também para facilitar a locomoção das abelhas sobre ele.
Figura1

Para embutir os tubos fixos nas colmeias PNN tamanho médio deve-se fazer dois orifícios, com broca chata de uma polegada, diametralmente opostos nas paredes maiores das gavetas superiores, iniciando-os em um ponto situado a 40 mm da aresta lateral mais próxima e a 30 mm da aresta superior. Desta maneira, o tubo fixo ficará bem próximo ao piso e ao lado menor da gaveta (figura 2).
Figura2




TUBO MÓVEL

Corta-se um pedaço de 233 mm de extensão de um tubo com 21 mm de diâmetro externo (os eletrodutos de PVC rígido são adequados), lixa-se até deixa-lo bem áspero e escavam-se roscas em ambas as extremidades. Faz-se pequena marca no centro do mesmo e aquece-se o local à chama de isqueiro, a gás ou lamparina a álcool com cuidado para não amolecer demais o plástico nem deixar perfuração alguma. Pouco a pouco, à medida que o PVC for amolecendo, força-se a região central do cano com algum objeto fino mas de ponta romba - um estilete de metal com a extremidade arredondada é útil. Desta maneira, o plástico vai sendo deformado, criando uma concavidade para dentro do tubo, até quase encostá-la na superfície interna do lado oposto. A seguir, já com o material frio e enrijecido, perfura-se o fundo da concavidade com uma broca para madeira com 1 a 2 mm de diâmetro, comunicando-a com o interior do tubo e possibilitando, desta maneira, a passagem do xarope quando for aí colocado mas, não, às abelhas. Faz-se também dois ou mais orifícios, com 1 mm de diâmetro, nas bordas da mesma, para permitir a entrada de ar no tubo. Para terminar, atarracha-se completamente um tampão, também de PVC, em uma das extremidade com rosca e nele, coincidindo com a posição da concavidade voltada para cima, faz-se um furo, com a mesma broca de 2 mm, desde a superfície do tampão até atravessar a parede subjacente do tubo móvel (orifício abastecedor na figura 3). Este orifício servirá para abastecer de xarope o alimentador já instalado e, ainda, como marca para facilmente identificarmos, estando a colmeia montada, a posição da “boca” da concavidade dentro da caixa a qual, a fim de não entornar o líquido, terá de ficar sempre virada para cima. Além disto, introduzindo neste furo um prego de aço ou palito de dentes, pode-se manter o tubo móvel travado na posição ideal, sem movimentos laterais enquanto atarrachamos o tampão da extremidade oposta.
Figura 3




A seguir, introduz-se pequena rolha de borracha ou cortiça, que fique perfeitamente ajustada ao diâmetro interno do tubo móvel, sem sobras, na outra extremidade do mesmo, desliza-se este cano pelo interior do tubo fixo e atarracha-se outro tampão de PVC, passando-o sobre a rolha, prendendo o conjunto à caixa de criação. Quando o tubo móvel já estiver fixado no seu lugar (figuras 4 e 5), injeta-se, com uma seringa e agulha grossa, 40 ml de xarope pelo orifício abastecedor, fechando-o depois, novamente, com o preguinho de aço ou palito de dentes.
Figura 4
Figura 5

Após um a três dias da colocação do xarope no alimentador, tira-se o tubo móvel que lá estava para impedir a fermentação do açúcar. Isto é feito com facilidade, bastando retirar o tampão que passa sobre a rolha (mantendo esta no lugar) e, por este lado, introduzir outro tubo móvel, sem o xarope mas já ocluído com a rolha e o tampão rosqueado no lado oposto, que empurrará o anterior para fora - não permitindo a saída de abelhas - e assumirá o lugar dele. Depois de embutir o tubo móvel vazio no tubo fixo, coloca-se o tampão na extremidade com a rolha deixando-o dentro da colmeia até a próxima alimentação, quando, então, pode-se abastece-lo como já explicado.
Deve-se, sempre, colocar uma vareta de bambu sobre o alimentador (figura 1), o que dificulta construções de potes de polem ou mel neste local. É conveniente, ainda, manter a concavidade do tubo móvel voltada para baixo enquanto este for deixado vazio dentro da colmeia, para impedir que as abelhas lancem detritos dentro do funil de alimentação. Quando quisermos abastecê-lo, basta girá-lo para a posição adequada. Não esquecer de passar uma fita de teflon, como veda-rosca, antes de colocar o tampão na extremidade do tubo móvel que não tem a rolha, para que não ocorram vazamentos. Com o fim de deixar aberto o orifício de abastecimento de xarope, deve-se passar a fita de teflon sobre as roscas situadas entre este orifício e o centro do tubo, é o suficiente para uma boa vedação