ISCA DE GARRAFA PET



Pensando em testar o sucesso dos diferentes métodos e padronizar a utilização de ninho-armadilha para
 que seja eficiente à maioria dos criadores, o Laboratório de Abelhas Indígenas da Entomologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, iniciou em Abril de 2007 um projeto com utilização de ninhos-armadilha para a captura de enxames no campus da USP. O objetivo era responder a algumas perguntas, como: quais espécies de abelhas sem ferrão são atraídas pelos ninhos-armadilha? Qual a melhor época do ano para sua instalação? Quais os volumes utilizados pelas abelhas para instalação de novos ninhos? Quais os competidores dos meliponíneos por locais de nidificação?

O primeiro tipo de ninho-armadilha testado foi um conjunto de recipientes confeccionado da seguinte maneira:

1.Obtenção e preparação das garrafas plásticas. Utilizamos recipientes plásticos pretos (eliminando a necessidade do saco plástico) de quatro diferentes volumes (0,5 L; 1,0 L; 2,0 L e 3,0 L). Com um furador faz-se um furo circular na lateral da garrafa onde será instalado um cotovelo de PVC de 22mm que servirá como entrada (o utilizado foi de 22mm) (figura 8).

2.Preparação do cotovelo. O cotovelo de PVC foi banhado em cera de Apis mellifera derretida em Banho-Maria e posteriormente em extrato de própolis de várias espécies (fguras9-10).

3.Banho de própolis. As garrafas foram banhadas internamente utilizando um borrifador com extrato de própolis De diferentes espécies de abelhas, a 50% preparado com álcool de cereais, numa tentativa de se atrair enxames de várias espécies (figura 11).

4.Instalação dos conjuntos de ninho-armadilha. Foram construídos 200 conjuntos para serem instalados no Campus da USP-RP e 100 conjuntos para serem instalados na Fazenda Aretuzina em São Simão. Cada conjunto era constituído por quatro garrafas com volumes diferentes que foram instalados junto às árvores, padronizando a altura do peito aproximadamente, e sua posição registrada num aparelho de GPS (figuras 12 e 13).

Após a verificação de sucesso na instalação de um enxame no ninho-armadilha foi esperado de 15-30 dias para realizar a transferência para o local definitivo. Esse período aparentemente é suficiente para a independência do ninho mãe para muitas espécies (van Veen, 2000). O local definitivo deve ser distante (maior que 300m) para que as abelhas não voltem ao local de origem. Deve-se esperar no mínimo um dia no novo local para transferir a colônia do recipiente plástico para a caixa (figuras 14-17).

Essa foi a primeira tentativa dentre diversas variáveis que ainda serão testadas. Mas os resultados obtidos são promissores. Tivemos, durante um ano de experimento, 36 enxames instalados nas armadilhas na USP de Ribeirão Preto. Das 18 espécies de abelhas sem ferrão existentes no Campus houve sucesso das armadilhas na instalação de cinco: Frieseomelitta varia (Marmelada amarela); Frieseomelitta silvestrii (Marmelada preta); Scaptotrigona bipuncatata (Tubuna); Tetragona clavipes (Borá) e Tetragonisca angustula (Jataí) (figuras 18 e 19). Na Fazenda Aretuzina, S. Simão, onde há o meliponário do Dr. Paulo Nogueira-Neto, repetimos o experimento e houve sucesso para outra espécie de meliponíneo, Plebeia droryana (Mirim) e ainda uma tentativa de enxameagem de Melipona quadrifasciata (Mandaçaia) (figuras 20 e 21). Em outro tipo de conjunto confeccionado a partir de caixas de papelão eles tem atualmente um enxame de Nannotrigona testaceicornis (Iraí).

A partir desse estudo se pode tirar algumas conclusões sobre as perguntas inicialmente realizadas. Apesar de termos conseguido enxames durante todo o ano instalando-se nos ninhos-armadilha, o período em que houve maior número de enxames foi entre os meses de Setembro a Janeiro, possivelmente por ser o período da primavera e verão, nos quais as temperaturas são mais elevadas e há floração da maioria das espécies de plantas, ocasionando aumento na disponibilidade de alimento para as abelhas. Quanto ao volume preferido, foi observado que os volumes maiores (2 e 3 L) são mais eficientes, pois neles há possibilidade de que todas as espécies se instalem, enquanto que nos volumes menores a maioria de sucesso foi para aquelas espécies que apresentam tamanho reduzido. O volume que apresentou maior sucesso para Jataí foi o de 1,0 L. A eficiência variou bastante em outros locais estudados (Freitas, 2001 e Malkowski, 2006) até locais onde não houve sucesso algum. O insucesso pode estar relacionado a alguns fatores como pouca quantidade de ninhos naturais, disponibilidade de outros locais de nidificação como caixas vazias e instalação inadequada das armadilhas (por exemplo, expostas ao sol ou com o cotovelo voltado para baixo, permitindo a entrada de água da chuva). Dessa forma, é aconcelhado  que sejam instalados poucos conjuntos inicialmente para testar a potencialidade da área (a menos que haja conhecimento prévio da abundância de ninhos naturais) e ao abrigo do sol. É possível que exista diferença na eficiência de acordo com a altura dos ninhos-armadilha, porém somente uma altura foi testada até o momento.